quarta-feira, junho 13, 2007

casa comunitária

A casa está vazia e silenciosa. Não a reconheço, só pelas marcas ainda presentes das pessoas que a habitaram de tantas maneiras. Um lugar que guarda muita emoção dentro de paredes. Um apartamento em Luanda, na Maianga, em frente à sede de um banco que exibe dinheiro de forma giratória. A nossa janela indiscreta sempre foi mais para dentro do que para fora.
Dentro pintaram-se telas, fizeram-se vídeos, escreveram-se textos, ensaiaram-se peças, discutiram-se políticas culturais, de partilha de espaço, e a guerra. Repetiram-se estórias e criaram-se muitas mais. Novas e impronunciáveis.
Sofremos com a falta de luz e o difícil equílibrio da suportabilidade desta cidade. Mas a alegria e a paixão muitas vezes nos redimiram.
Agora as pessoas da casa foram quase todas para a Europa. Já não vamos viver todos juntos de novo. Agora encaixota-se as coisas, arrancam-se as fotografias da parede, pinta-se de branco por cima das frases espontâneas, embrulha-se a vida para outras paragens. Ainda parece que ouço o choro do bébé e as vozes dos amigos, loucas e desvairadas, a tentar arrancar à vida uma emoção acelerada que ela parece não nos permitir. As músicas vibrantes e os risos na varanda. Vamos seguir outros rumos depois desta estranha conjugação de gente e intensidade num espaço improvável.

1 comentário:

Terra disse...

As partidas são assim. Impregnadas de recordações que se apressam em catadupa. Depois, o vazio.
Talvez nem sintas saudades, vais ver!...