segunda-feira, setembro 11, 2006

Telegrama

Achas que estou a ficar maluco?
Não respondi. Sei que sabes a resposta antes de mim, antes mesmo de teres formulado a pergunta.
Não respondo.

Eu que nem pergunto.


Um segredo como quando não se desinfecta uma ferida interior, uma ferida não, antes uma chaga. A chaga vai-se abrindo cada vez mais e os riscos de infecção crescem. Se sarar fica uma cicatriz belíssima, apesar da dor. Se a carne viva apodrecer, tem que se avançar para a mutilação. E é isto: bocados de nós arrancados na berma da estrada poeirenta ou cicatrizes que podiam ser pinturas na capela sistina ou mãos esborratas nas paredes das cavernas ou pedaços de vidro coloridos passados pelas mãos do poeta.


De nós não ficará senão um farrapo. Um farrapo daqueles que ficam presos que tempos nos cavacos carbonizados nos campos ardidos.

Pelo menos ardemos, valha-nos isso.

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