A utopia pequena é um pouco diferente da grande. Quer parecer-me que sim. E não apenas pelo tamanho. Não diz a pequena somente respeito a um lugar para se viver longe de toda a merda? Repito: de toda a merda. Que podia até ser já aqui? Mas este aqui ainda não está pronto. É possível que sejam precisos ainda mais alguns passos. Para viver longe. Longe de toda a obrigação política. Porra! Como cresce a obrigação! Obriga-nos a falar. Depois soterra-nos de impotência. E nunca mais se começa! Por isso não me apraz uma utopia grande. Não é uma suficientemente bela revolução. Quero outra que comece sem autorização. Todavia, como nos aperceber dos esforços em prol da revolução feitos por outros? É complicado. Ninguém os sabe distinguir. Confundem-se a anti-utopias. Assim adoptam os Mestres palavras tão cheias de si mesmas. Por exemplo, «ideologia». Parece tão cheia esta palavrinha. Mas vai-se a ver e não. É só para enganar. Está vazia. Mas obrigam-nos a correr à sua volta. Outros tanto nos falam de «Deus». De novo. «Deus p’ra aqui, Deus p’ra acolá». Não dá para não meter aspas. Que cansaço! Não estava a tanto custo essa conversa acabada? Não querem mudar de palavras? É que Deus cheira mal. Mofo. Do pó que se acumula nas cabeças. Não as põem a arejar? Não. A utopia escondida é pequena. Pertence aos cansados, aos miseráveis, aos comidos. Somos todos comidos. Pertence ao grito aberto na face não me terás puta de vida fechada.
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