quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Tudo será tragado num vórtice


« E agora, deixaste de habitar o mundo dos vivos, o mundo dos mortos adiados. A tua hora soou. Deixaram de te conceder o adiamento. Deves servir. E servirás tanto melhor quanto melhor tiveres aproveitado o tempo em que esperavas ordeiramente na fila a tua vez. Servir para quê? - perguntas. Da poeira de estrela vieste e a ela voltarás. Das cinzas às cinzas.
Enquanto estiveste por aqui, o que é que fizeste? O que é que não fizeste? O que é que devias ter feito? O que é que querias fazer e não fizeste, por cobardia, por preguiça, por ignorância de que esta hora ia chegar?
Era só uma questão de tempo. Tudo é uma questão de tempo. Tu desapareceste, e um dia também o sítio onde exististes desaparecerá, e o planeta girante onde esse sítio existiu, e o sistema onde esse planeta girou, e a galáxia onde esse sistema existiu. Tudo será tragado num vórtice, que algures por aí aguarda também a sua vez. Serás átomos, electrões, neutrões, protões e outras partículas subatómicas. Cada um irá cair onde o vórtice na sua voracidade o projectar. E nessa sopa de partículas o que resta de ti? Da tua vida?
O que habitará nelas do que tu foste? »

(transcrito do programa O ouvido de Maxwell de António de Almeida na Antena 2, Quintas-feiras alternadamente às 24h e às 10h)

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