quinta-feira, fevereiro 02, 2006

pierre le fou, quoi le fou


engulo as palavras. elas não são secas.
aproximações lentas, demoradas, para dinamitar a cabeça.___
pierre le fou, quoi le fou.
sair em reconhecimento de limites, coisa do para lá
a minha voz magoada
uma mancha__________________________terrível brancura do ganso morto
e afastar-me dos trilhos de um terreno íngreme
escapar
mastigar as contradições
mastigar nós de garganta e soluços
cuspir o estômago inteiro para fora

há coisas que não consigo
rasgo a pele, um pouco
olha tanta coisa e um arranhão de gato
mas há também bichos que devoram a cabeça
que se instalam, que criam as suas covas
e outros animais que trabalham dentro
contra o casulo
secura, gritos, frio, muita violência nos olhos
e desaparecem todos da superfície
parecem um multidão nos subterrâneos
mas é apenas falta de espaço
mas desatam a multiplicar-se como ratazanas encurraladas
tem de ser uma imagem terrível
tem de ser para arranjar força para o abatimento do solo
alisar a terra
planície com as montanhas ao longe - muito perto não vejo nada
escavar um fosso para o escoamento das águas
para que se possa dizer que finalmente o rio desaguou

mas é preciso cuidar das casas
dar abrigo aos seres que se alimentam da terra
que a fazem aquém do povoamento dos desertos
porque é também precisa a sombra,
a fenda por onde desaparecem os lagartos,
alguns ninhos, uma poça.
a subtracção não pode ser cortar de um lado e do outro até que se acerte
porque se corre sempre o risco de desaparecer como a miúda
tem de ser um trabalho exacto, lento
abraçado à vida.
e aqui a tua violência deve descer ao sussurro
fazer-se música
agora esquecer-se do movimento giratório
e ser capaz de gestos simples, pequenos
como chuva de vez em quando.

Sem comentários: