Não gosto de produtos tóxicos. A visão dos quadrados cor de laranja com a cruz preta, a chama e especialmente a caveira, é suficiente para me causar uma leve sensação de pânico. Ardem-me os olhos, tenho comichão nas mãos... Mas, por causa de uma longa disputa territorial, a gata da minha irmã todos os dias fazia xixi no patamar da entrada de casa, de tal modo que o chão ficou impregnado e passados dois meses da gata se ter ido embora, passadas muitas escovas com lixívia em esforçadas lavagens, o cheiro continuava a sentir-se; perante isto decidi ir à drogaria saber se por acaso não existia nenhum produto específico para resolver o problema.
Vassouras, esfregonas e alguidares pendurados à porta, uma parafernália de objectos pelas paredes e tecto, ao fundo atrás do balcão, um senhor de bata branca. Bom dia, queria saber uma coisa... tem algum produto que tire o cheiro do xixi de gato? Expliquei que sim, já tinha experimentado lixívia, sonasol, mas que não saía. Descrevi o chão de pedra velho, com fendas, mossas, carcomido. Pois, pois, casas velhas... - sentenciou o senhor da drogaria - Havia uma coisa boa mas já não se fabrica. Posto isto, virou-se para a estante como que à procura. Criolina! exclamou satisfeito mas com um encolher de ombros de quem está perante uma evidência.
E o que é isso? - perguntei atenta ao nome sonante. Então, é um produto que se usa nos canis.
Mas é tóxico?- insisti eu. Não, não é nada tóxico. É um desinfectante que se usa nesses sítios dos animais para tirar o cheiro. Então – alterquei - mas se tira o cheiro assim é porque deve ser tóxico... Oh menina, estou-lhe a dizer que é um desinfectante! Cheira mal, mas é tudo. Não arredo da desconfiança, argumento: Tem de se sair de casa e deixar as janelas abertas durante umas horas? É que isto é um rés do chão e a zona da porta não é nada arejada e... O senhor da drogaria soltou um suspiro paciente e apoiando as mãos no balcão explicou-me calmamente como aplicar a criolina e aconselhou-me sobre o melhor modo de a remover. Acedi e perguntei pelo preço. Um euro e vinte. Ok, é barato pode-se arriscar, pensei.
Levo a mão ao bolso, o senhor volta-se para a estante,
tiro as moedas, o senhor agacha-se abrindo um mostrador,
conto as moedas, ele fecha o mostrador já com a embalagem na mão,
ponho as moedas em cima do balcão, o senhor pousa a garrafa de criolina,
eu pego na garrafa, ele pega no dinheiro,
eu olho para o rótulo, o senhor para as moedas,
eu vejo os quadrados cor de laranja, vou ler... Ora... tenho de dar trinta cêntimos de troco - vai pôr as moedas na caixa, e eu - Desculpe lá!! mas isto é tóxico! Suspensão do gesto, mão à beira da caixa, moedas pelas pontas dos dedos... O senhor volta-se, olha para mim, repara que eu estou a ler atentamente o rótulo, saltando de cor de laranja em cor de laranja. Desculpe! - repeti, quase ofendida - mas isto aqui diz que é tóxico. Os seus grandes ombros descaem como que aliviado, o senhor da drogaria sorri e diz: Oh menina, isso é um desinfectante, eles é que são obrigados a pôr essas coisas. Desculpe, mas aqui diz que irrita a pele, que.... e prossegui lendo os avisos. 0 senhor da drogaria, grande, barba rala, quarentas, olhos claros, bata branca, olhou para mim e hesitou. Por momentos parecia que ia estender a mão e devolver-me o dinheiro. Mas em vez dessa avançou com a outra mão sobre a garrafa abrindo-a de um golpe e zás! põe-a junto ao meu nariz. Bfff! grunhi e saltei para trás. O senhor da drogaria não articulou uma palavra, mas disse Oh menina, não seja parva! Cheirei a dita criolina. Não cheirava muito mal, concordei. Pronto, ok. Mas o senhor da drogaria, como se eu não estivesse ainda convencida, pega de novo na garrafa e vai de deitar criolina para a mão e, não contente com isso, põe-se a espalhar a criolina no braço. Eu não queria acreditar! Oh senhor, não faça isso! Olhe que isso irrita a pele! Vá lavar o braço! Vá lavar a mão! E o senhor da drogaria sorrindo repetiu: Oh menina isto não faz nada! Já lhe disse que eles põem essas coisas todas no rótulo porque são obrigados, que é para as pessoas não se porem a tomar banho ou a lavar os pratos com isto.
Vassouras, esfregonas e alguidares pendurados à porta, uma parafernália de objectos pelas paredes e tecto, ao fundo atrás do balcão, um senhor de bata branca. Bom dia, queria saber uma coisa... tem algum produto que tire o cheiro do xixi de gato? Expliquei que sim, já tinha experimentado lixívia, sonasol, mas que não saía. Descrevi o chão de pedra velho, com fendas, mossas, carcomido. Pois, pois, casas velhas... - sentenciou o senhor da drogaria - Havia uma coisa boa mas já não se fabrica. Posto isto, virou-se para a estante como que à procura. Criolina! exclamou satisfeito mas com um encolher de ombros de quem está perante uma evidência.
E o que é isso? - perguntei atenta ao nome sonante. Então, é um produto que se usa nos canis.
Mas é tóxico?- insisti eu. Não, não é nada tóxico. É um desinfectante que se usa nesses sítios dos animais para tirar o cheiro. Então – alterquei - mas se tira o cheiro assim é porque deve ser tóxico... Oh menina, estou-lhe a dizer que é um desinfectante! Cheira mal, mas é tudo. Não arredo da desconfiança, argumento: Tem de se sair de casa e deixar as janelas abertas durante umas horas? É que isto é um rés do chão e a zona da porta não é nada arejada e... O senhor da drogaria soltou um suspiro paciente e apoiando as mãos no balcão explicou-me calmamente como aplicar a criolina e aconselhou-me sobre o melhor modo de a remover. Acedi e perguntei pelo preço. Um euro e vinte. Ok, é barato pode-se arriscar, pensei.
Levo a mão ao bolso, o senhor volta-se para a estante,
tiro as moedas, o senhor agacha-se abrindo um mostrador,
conto as moedas, ele fecha o mostrador já com a embalagem na mão,
ponho as moedas em cima do balcão, o senhor pousa a garrafa de criolina,
eu pego na garrafa, ele pega no dinheiro,
eu olho para o rótulo, o senhor para as moedas,
eu vejo os quadrados cor de laranja, vou ler... Ora... tenho de dar trinta cêntimos de troco - vai pôr as moedas na caixa, e eu - Desculpe lá!! mas isto é tóxico! Suspensão do gesto, mão à beira da caixa, moedas pelas pontas dos dedos... O senhor volta-se, olha para mim, repara que eu estou a ler atentamente o rótulo, saltando de cor de laranja em cor de laranja. Desculpe! - repeti, quase ofendida - mas isto aqui diz que é tóxico. Os seus grandes ombros descaem como que aliviado, o senhor da drogaria sorri e diz: Oh menina, isso é um desinfectante, eles é que são obrigados a pôr essas coisas. Desculpe, mas aqui diz que irrita a pele, que.... e prossegui lendo os avisos. 0 senhor da drogaria, grande, barba rala, quarentas, olhos claros, bata branca, olhou para mim e hesitou. Por momentos parecia que ia estender a mão e devolver-me o dinheiro. Mas em vez dessa avançou com a outra mão sobre a garrafa abrindo-a de um golpe e zás! põe-a junto ao meu nariz. Bfff! grunhi e saltei para trás. O senhor da drogaria não articulou uma palavra, mas disse Oh menina, não seja parva! Cheirei a dita criolina. Não cheirava muito mal, concordei. Pronto, ok. Mas o senhor da drogaria, como se eu não estivesse ainda convencida, pega de novo na garrafa e vai de deitar criolina para a mão e, não contente com isso, põe-se a espalhar a criolina no braço. Eu não queria acreditar! Oh senhor, não faça isso! Olhe que isso irrita a pele! Vá lavar o braço! Vá lavar a mão! E o senhor da drogaria sorrindo repetiu: Oh menina isto não faz nada! Já lhe disse que eles põem essas coisas todas no rótulo porque são obrigados, que é para as pessoas não se porem a tomar banho ou a lavar os pratos com isto.
Não sei que cara é que fiz, mas entre o braço com criolina e o pânico dos quadrados cor de laranja, o senhor da drogaria pareceu-me um homem sensato e aceitando a lição e o troco saí da drogaria com a criolina num saco.
1 comentário:
bonito texto, ana.
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