sexta-feira, dezembro 30, 2005

Postal de Roma



Torpignattara-Roma, 18 de Junho de 2005

Ah, os traços expressivos de uma cidade, das vidas que ela leva... Não são apenas as ruínas que nos fazem tropeçar para fora de um tempo demasiado premente, desviado à temperatura dos corpos arrefecidos. Nem só a língua italiana que nos enrola nas suas vogais abertas, como ondas, e pede ao corpo movimentos subtis e sensuais de acompanhamento. É também a cidade conquistada pelo campo, altos pinheiros, fenos e ervas selvagens, estranhos arbustos secos a cada esquina, cores da terra desarrumada. São as cigarras cantando, sempre adivinhando as temperaturas, os terraços baixos dos bairros pobres, o povo agradavelmente feio nos transportes, suando o tédio, os emigrantes de todos os lados submersos no peso romano. E até de noite se ouvem os comboios que passam e que, por vezes, ao pararem no meio da ferrovia, chiam as suas composições abstractas, como cantos de baleias urbanas.
Fomos acolhidos por uma rapariga das correntes de ar, descoberta na brisa que atravessa o calor.
Filosofia da viagem: estar parado... Como é possível respirar os aromas de cada sítio, se a voragem nos precipita de um lado para o outro? Há uma verdade em estar quieto, permite absorver o ambiente, entediar-se sem privilégio... O amor faz-se em qualquer parte, e é lá que se vive.

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