terça-feira, abril 19, 2011

os conjuges em Macau

Naquela terra delirante, os jovens crescem com uma ideia deturpada do mundo. Até as portas dos táxis abrem sozinhas.
Estávamos num dos pontos de turismo sexual, com filipinas, tailandesas na montra da rua, em frente ao bar MP3 que, no cartaz, apresentava as novidades russas.
- Aqui rola mais dinheiro no jogo do que nos Estados Unidos inteiros.- exagera um português rendido à adrenalina macaense.
Os tubarões da terra tentavam introduzir o rapaz recém-chegado aos favores sexuais... pagos por eles.
- Não sais daqui sem levar uma massagem nas virilhas! – aliciam-no.
No jantar antes desse momento, com as esposas, eram óbvias as conveniências das relações. A esposa número 1 lembrou:
- Estive 15 dias em Luanda, as pessoas são tão queridas, podem ser pobres mas muito simpáticas. Não sei como vivem naquele musseque com tanto dinheiro e diamantes...
Está há mais de 20 anos em Macau e continua a falar com as empregadas filipinas com o paternalismo-salvaguarda do estatuto senhorial. O esposo é obcecado com a boa vida e todo o tipo de amoralidades, repetindo o lema epicurista: “divirtamo-nos”.
A esposa número 2 faz voluntariado num orfanato e, a propósito de Luanda, lembra-se de contar com voz fininha e sempre à beira do riso, uma sensação excitante:
- Eu uma vez fui a uma festa africana em Lisboa, nem queria acreditar, convidaram-me para dançar e eu muito inocente lá fui. Ai meus deus. Consegui sentir tudo, aquilo foi estranhíssimo. Voltei para casa e disse à minha mãe!
O marido, pessoa bastante inteligente, um operativo encantado com a energia e facilidade de fazer dinheiro em Macau ("o dinheiro do jogo favorece a qualidade de vida da comunidade", é a sua teoria), quase a despreza, despedindo-se com um seco “adeus” sem a olhar. Os homens vão para a noite e obviamente elas vão para casa. Por isso quando a esposa nº 2 aparece imprevisivelmente no bar não é sem desprezo que a recebe e não lhe dirige palavra. Estranho mundo das aparências, ninguém se incomoda com as vidas paralelas e desconectadas, isso faz parte das terras das oportunidades.

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