A rapariga de franjinha vestia um casaco de cabedal vermelho, com outro de capuz por dentro e usava ganchinhos no cabelo, o que lhe dava um ar de menina, de cordeirinho até. Depois de a ouvir defender ideias radicais com ousadia criativa, ganhou para mim uma altivez para lá das fragrâncias de Rivette. Gostei dela por falarmos de coisas improváveis, e o nível de abstracção da realidade superar a minha expectativa, surpreendendo com novas referências e estórias de outras paisagens e paradigmas de pensamento sem nunca ser pretenciosa.
Gostei sobretudo do facto dela não ter medo do ridículo, aquele ridículo que só existe auferido pelos outros, no vício de todos nos sentirmos no direito de julgar ou de olhar de lado. Talvez por ter uma linguagem corporal imediatamente denunciadora das tantas mulheres que a habitavam (e conseguir não encaixar em nenhuma máscara), sabia viver desde logo com essas possibilidades. Ao falar alterava totalmente a figura do seu ar infantil.
Se a associasse às personagens sem rosto das canções de Sérgio Godinho, podia ser uma Etelvina às vezes, outras a Alice nos país dos matraquilhos.
Gostei sobretudo do facto dela não ter medo do ridículo, aquele ridículo que só existe auferido pelos outros, no vício de todos nos sentirmos no direito de julgar ou de olhar de lado. Talvez por ter uma linguagem corporal imediatamente denunciadora das tantas mulheres que a habitavam (e conseguir não encaixar em nenhuma máscara), sabia viver desde logo com essas possibilidades. Ao falar alterava totalmente a figura do seu ar infantil.
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