domingo, janeiro 09, 2011

viagens curtas

No avião Dakar – Praia sento-me ao lado de um rapaz muito negro, de relógio de ouro e camisa preta estampada com brilhantes. É cavalheiro e oferece-me a única sandes dele como se fosse normal eu comer duas e ele nenhuma. Fico sensibilizada e iniciamos uma conversa tão longa como a duração do vôo. Conta-me da sua vida de comerciante senegalês, do bissness entre o Dubai, Angola, China, Brasil e Cabo Verde com muitos truques que não vou desbocar aqui. Fico a saber imensas coisas sobre os procedimentos da economia informal (valioso para os comerciantes de tecnologias os países mais virgens nessas áreas e que precisam de intermediários). O senegalês conta do racismo em Cabo Verde mas pior é aquele que sente quando vai ao Brasil, quando lhe tremem as pernas perante o olhar perplexo ao entrar em restaurantes de classe media da zona sul do Rio. No avião Praia-Mindelo apanho um jornalista brasileiro que vem fazer uma matéria sobre turismo massificado em Cabo Verde. Depois de tanta informação sobre projectos de investidores estrangeiros, os paninhos quentes do Estado e a ameaça de mais ilhas caboverdianas serem destruídas, digo ao brasileiro que vou fechar os olhos e contar tartarugas.

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