quinta-feira, maio 06, 2010

não existe pecado do lado de baixo do equador...

E é isso aí, cá estou eu no país da piada pronta, onde toda a gente sorri a toda a hora, mergulhada na alegria brasileira e no jeitinho carioca simpático e atencioso.
Pode parecer superficial, mas acho muito engraçado.
No bonde o condutor avisa “ai meu deus, quanta responsabilidade, todas essas vidas na minha mão?” e ri malandro e as nossas vidas de facto na mão dele. Na praia os meninos em cima da rocha (rochas e falésias escarpadas nas praias da região oceânica), entre o castanho e o verde, o azul do mar e do céu, fazem as suas molecagens lançando olho nas bundas salientes e cabelos compridos das meninas. Os vizinhos da praia falam à vontade sobre quase tudo: sexo, aventuras, política – apesar de uma alienação bem trabalhada pelos orgãos de comunicação há muitos anos. À noite a praça cheia de jovens, sorrisos largos, pessoas bonitas, de cabelos fartos e jimmis soltas, riem, beijam, bebem Scol e Itaipava enquanto os versos do rapper se solta - elogiando o RipRópi com carisma, e juízo sobre as coisas, atirando o ego para os outros.
Por todo o lado há soltura na fala do corpo. Reina o mundo do carinho e dos carinhosos, "oi quirida!", nas palavras, na conversa mole, no beijo, a demonstração de afecto é uma constante.
Apesar do dia de trabalho intenso, inúmeros transportes para chegar a casa, o relógio que não pára numa rotina implacável difícil de erguer a cabeça, contam-se pelos dedos as caras macambuzias. No constante fluir de rostos, uma energia qualquer americana diferente das megapolis asiáticas e muito menos europeias: muita gente se cumprimenta, manda piropo e piada para o outro.
Subimos Santa Teresa a ver a vista, naqueles lugares castiços, onde outrora a aristocracia veio morar para fugir às doenças da cidade baixa e agora os meninos do papá vêm comprar a melhor coca do Rio. Num barzinho com artistas plásticos, estrangeiros apaixonados pelo Rio, discute-se a brasileidade e critica-se a mistificação à volta da mestiçagem. Lembram os sertanejos do Euclides da Cunha. Fiel, um rapper que vem da Paraíba, insiste que somos todos afro-descendentes. Brinda-se aos vários brasis que há no Brasil.
Numa favela da Maré grande agitação, milhares de lojas, cabeleireiros, cybers, mercado, camelôs, e o valão do esgoto a separar os bairros. Passamos pelas casinhas construídas na laje vendida de onde sai a Miss Garota da Laje, um concurso de bronzeado ou boniteza de quem apanha sol ali mesmo. Vamos ver treino de break dance e ginástica. Um dos funcionários do observatório da favela queixa-se que teve uns dias sem dormir por causa dos tiros da guerra de duas facções rivais na Vila do João, ali na passadeira 6 da Avenida Brasil. Mas hoje é dia de comemorar, ganhou uma bolsa para prosseguir os estudos.
Sábado à noite, além da agitação natural, vai rolar um funk. Duas louras platinadas a beber chopinho com picanha, comentam alegres a final da taça Rio Flamengo, Bota Fogo que encheu o Maracanã. “Você viu aquela minina na novela?” E por aí a fora, a conversa não pára, disposição também não, como bons especialistas que são em falar do nada.

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