segunda-feira, novembro 09, 2009

Lisboa, Paris, Luanda, Moscovo, Berna, Maputo, Faro, Edimburgo 2000 e mais coisa menos coisa

ilustração de Margarida Girão
É o primeiro dia do mês e tenho uma caneta nova. Não sinto qualquer desejo de novidades, não quero saber dos afazeres, são demasiado ruidosos e estão sempre a mudar. Ou da felicidade, que fica imediatamente esquecida mal se sai de dentro dela, como quando se sai do mar ou do sexo - não chega para ser memória.
Quando me vou embora, e estou sempre a ir embora, inaugura-se outra comunicação mais perene com as pessoas. Afasta-se o ruído como que por magia. As partidas permanentes fazem-me ver pelos outros ou, pelos meus olhos, ver o mar de muitos outros.
A vida anuncia-se por correspondência já que não se encontra o lugar certo para estar, afinal encontrado sempre mas sem capacidade para decidir ficar.
Nem que sejam só umas palavras, curtas e poucas, gostava de escrever uma carta uma vez por mês, para o coração saber como viver. Pode ser a continuação de um poema, garrafas cheias de dor, ciúmes, gritos e sofrimento, com música, inferno e segredo. Uma espécie de crimes contra mulheres que no entanto recusam ser vítimas. Cadelas cor-de-rosa à procura de um mapa interior.

Para onde vão as palavras quando as deixamos? Lançam-se como flores negras.
(folha de sala para porque na noite terrena sou mais fiel que um cão do Teatro do Vestido)

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