Parece que esqueci tudo. De repente dou por mim a reler os livros do liceu ou do Cambridge School e lá voltam os modal verbs e o present continuous, o humanismo e o livre arbítrio como ferramentas e conceitos redescobertos. Fomos usando tantas dessas aparentes inutilidades sem lhes lembrarmos o aspecto formal, ficaram filtradas dentro de nós, sem nomes, só pela funcionalidade. E o destino de muitas é serem esquecidas porque teorizadas e complexificadas com tantas outras questões. Por isso, diverte-me regressar ao material didáctico, ao livro organizado com esquemas e imagens tão bem pensados por equipas especializadas, que têm métodos pedagógicos para no-las prenderem ao cérebro por pouco tempo.
A aprendizagem funciona quando se lê ou ouve, memoriza-se temporariamente, e reproduz-se e questiona-se num discurso já com palavras nossas, que são também as dos outros. Partilhar com alguém o que se aprendeu é muito importante. Sempre vivi esse dilema, de sentir que só valia a pena aprender se fosse para partilhar depois. Mas na minha obsessão socializante, há depois um pudor que remete para o campo privado alguns dos elementos-chave dessa aprendizagem.
Do conhecimento que ao longo dos anos será esquecido, adulterado, substituído (já soubemos tantas coisas, tantos exames, testes e respostas. Tantas coisas coladas com cuspo que se evaporavam no dia seguinte, as frequências, os trabalhos, as teses e as defesas de tese. Pequenas metas no conhecimento, obsessões, formalidades. Tantas outras coisas que ficaram como fundadoras).
É na condição de conhecimento-teia, o processo infindo de pequenas trajectórias de aproximações às “coisas”, nunca o seu alcance, que está a frustração e a alegria momentânea. Acumulando as verdades parciais, produz-se um simples somatório de acontecimentos ou transformações radicais? Se “a dúvida é a pedra de toque da verdade, o ácido que dissolve os erros”, na perspectiva descartiana, o nosso prazer passa por estas sucessivas e recicladas interrogações.
Para depois tudo se deteriorar. Um simples acidente cerebral varrer toda a biblioteca interna, as referências mais preciosas, os poemas que sempre soubemos de coração, os mais comoventes momentos, a mais legítima dúvida.
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