domingo, dezembro 23, 2007

monólogo 2

Imagino: se estivéssemos nesse mesmo restaurante daqui a 10 anos, nessa altura já não saberias o que dizer-me.
E eu talvez ganhasse coragem para dizer tudo o que tinha calado.
O mais provável é que não. O mais provável é não voltar a estar contigo nas próximas semanas.
Fazes gestos cavalheirescos como servir-me vinho assim que o copo se esvazia. Eu evito expressões como “interessante” ou “é isso”. Não quero que penses que estou a acompanhar-te ou a aplaudir-te. No entanto, parece que te conheço e que adivinho
tudo o que vais dizer a seguir. Mas é nessa altura que me engano e tu surpreendes-me.
Na tua simpatia queres começar a inquirir-me. São perguntas rasteiras para indagar a minha “situação de vida”.
Mas eu não quero falar de mim. Nem de ti. Gostava de falar de coisas que não fossem as nossas vidas
que são tão pouco hábeis para encaixar dentro de palavras.
Caem tão mal com o vinho.
São tão imbecis todos os “projectos” e as vontades impraticadas.
No entanto, falar de qualquer coisa do foro político, social, geográfico, artístico ou filosófico me soa a falso. Ou a curiosidade mórbida. Ou a comentário reciclado.
Tu insistes no eu e no tu.

1 comentário:

antónio davage disse...

Francamente, gosto. Esta 'lincada', cara Marta.