terça-feira, dezembro 11, 2007

concurso de dor

No hospital de Santa Maria entramos para a família das desgraças. Enquanto ali estivermos temos que justificar de alguma forma a nossa pertença a essa comunidade. E não basta a troca de olhares cúmplices de sofrimento.
-Ai queria tanto ver a minha mãezinha! - gritam as ciganas. 5 mulheres altas, louras, morenas, com brincos e tranças, saias pretas. Os seus homens lá fora, de pé, em roda, partilham uns com outros episódios heróicos acerca do paciente que, ali internado, é a razão da sua presença.
-Ai que saudades da minha mãezinha! - pregão a choros e gritos de impressionar.
-Ai ai que dor, que dor! Eu morro, eu morro. – Os outros começam a sair do seu sofrimento e a pensar: “que estranha forma de sofrer”. É o concurso de dor levado a limite.
–Deus, fala comigo, não ouço a tua voz!- abafam tudo, estridência. Já ganharam.

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