domingo, junho 03, 2007

No clube náutico, a baía e os iates descansam

As torres em construção quase prontas dissipam as dúvidas: o imenso capital ascende e ganha terreno. Prédios para gestão de petrolíferas são agora pontos decisivos na contemplação da cidade, fachadas que tapam o que está lá atrás que deixará de receber a brisa do mar para refrear o insuportável calor. Daqui de longe até parece haver habitação suficiente para todos, até parece uma cidade pacata e limpinha, quase silenciosa.
Nesta esplanada os brancos sentem-se seguros e confortáveis entre si, podem gozar à vontade com as deficiências do país e elogiar os dinheiros uns dos outros, mas mais de si próprios, enquanto jogam ao dominó e pedem, sem lhe olhar nos olhos, mais uma cerveja ao empregado preto como se rosnassem, já meio irritados na certeza de que se vai esquecer de alguma coisa, vai praticar alguma asneira mesmo própria de países atrasados.
Em clima neo-colonial, vivem a ilusão, nestas mesas a olhar para a baía, de que a cidade lhes pertence e o futuro está aqui com o que podem facturar.
Há qualquer coisa de triste nos clubes náuticos do mundo inteiro, sente-se a mistura de homens do mar com snobesinhos petulantes, meio descontraídos meio preocupados com o negócio. O som das bolas de snooker, o gelo do gin tónico e a cor branca das suas peles combinam bem com a Luanda de outrora, que a muitos deixa saudades, que começam a ser os mesmos para quem também é prazeirosa agora. Com liberdade de movimentos, fins de tarde de remos arrumados, calções, chinelos e bebidas frescas com o céu muito laranja.
Ressuscitam a sua bela adormecida cidade nos fins-de-semana lânguidos.

1 comentário:

redonda disse...

Gostei do que vi do vosso blog. Pareceu-me diferente. Um destes dias, espero reencontrar o caminho para voltar com mais tempo (o meu não é, e não comento para que me leiam; foi só uma esperiência e só o mantenho porque continuo pela blogosfera).