sexta-feira, maio 25, 2007

o que é ficar?

fotografia de Kiluanji Kia Henda
Pessoas para quem a viagem não é acessível nunca. Que não saíram das teias de uma mesma cidade. Ou da pequenez de uma ilha. Circular circular.
Que não sabem nada de amanhãs. O futuro, um impossível estado de espírito.
É bem possível que para elas nada mude, nem em absoluto nem em particular.
Filhas do tédio, lidam bem com a espera e a inacção.
Como é ter estado sempre aqui? Não ter vindo de lado nenhum. Ter vivido 26 anos num país instável onde viajar era perigoso e logisticamente impossível.
A viagem não ser uma ansiedade presente (vê-se os filmes de Hollywood para sonhar outros cenários).
Numa África de nómadas, do transitório, de casas e estruturas com um século no máximo. Com tantas histórias das terras longe, por tantos outros que foram e voltaram.
Nas ilhas, pessoas que nem a ilha vizinha conheciam, nem a outra ponta da ilha onde vivem.
Qualquer coisa que vem de fora é um estímulo de curiosidade, os olhos dos outros que nos trazem matéria.
Às vezes a reacção é a de não querer saber, para não se sentirem desqualificados na conversa com assuntos que não dominam.
- vens-me falar de coisas e lugares que não conheço, que posso eu responder?
Então falam apenas das maravilhas e dificuldades da sua terra para que tu dês o devido valor às mais pequenas e importantes coisas. Aquele é o limite de território de conversas.

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