segunda-feira, março 12, 2007

planar no deserto


fotografias de Kiluanji Kia Henda
No Namibe, terra de pastores mucubais e festas do mar, o silêncio e o vazio têm formas de arco, canyons, lagos, ruínas de fazendas, pequenos pântanos onde o sal aflora, cemitérios de areia e pedras, dunas, palmeiras isoladas, welwitchas centenares, crianças a correr sem destino. Apetece esquecer tudo, ouvir debaixo da areia, sussurros.

As paisagens esmagam com a sua imponência e imensidão. Percorre-las é com um infantil encantamento como se fosse a primeira pessoa a vislumbrar tudo aquilo, a descobrir as conexões entre os factos da história, indagar nas marcas do presente o passado sombrio, de sangue, ocupações, espoliação de terras e gado e ainda, porventura mais incómodo, a harmonia e bem-estar de outrora (para poucos) que pressinto nas ruínas do hoje.
"Apreender o clima dos tempos, de certos tempos em certos lugares, é para alguns de nós uma maneira muito válida e rigorosa de experimentar idades”, diz o Ruy Duarte de Carvalho.

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