domingo, outubro 29, 2006

Esclarecimento

Não é preciso. De todo. No início, ainda um pouco às aranhas. Sem ninguém que me explicasse exactamente o esquema, a estratégia de todos os dias, os alinhavos obrigatórios do quotidiano. Fui obrigada a fazer eu mesma o desenho: uma confusão de linhas. Não é preciso. Já sei. É isto. Toda a gente, nós, todos, queremos o momento seguinte como se de facto nos pertencesse: o que comemos e bebemos, o que vemos e ouvimos, o que sentimos e guardamos, o que pensamos e falamos, o que tocamos e compramos, o que sobravalorizamos e o que destruimos, o que amamos e esquecemos, o que fazemos e o que nos dói. É tão lindo o meu pântano. Não é preciso. Já sei. E desta vez não há árvores, nem pedras, nem internamentos, nem dor palavrosa a implorar silêncio, talvez apenas um pássaro coxo que não pode pousar nunca, senão cai no seu próprio precipício. Não é preciso. De todo. Voemos, borrados de medo. Não é preciso. Já sei.

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