segunda-feira, junho 05, 2006

O dia, os dias, o fim dos dias (Michaux e Celan VI)


. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Sem que falem, delapidado pelos seus pensamentos

Mais um dia de menor nível. Gestos sem sombras
Sobre que século debruçarmo-nos para nos darmos conta?

Fetos, fetos, diríamos suspiros, por toda a parte, suspiros
O vento espalha as folhas soltas

Solidez das macas, há cento e oitenta mil anos nascíamos
já para apodrecer, para perecer, para sofrer

Esse dia, já tivemos parecidos
uma quantidade de parecidos
dia em que o vento se precipita
dia de pensamentos insustentáveis

Vejo os homens imóveis
deitados em barcas

Partir.
De qualquer modo partir.

A longa lâmina da corrente de água estancará a palavra.


Henri Michaux, «Le jour, les jours, la fin des jours (Méditation sur la fin de Paul Celan)», in La revue des Belles-Lettres, nº 2-3, 1972, p. 113; Oeuvres complètes, III, Gallimard, Paris, 2004, p. 756

1 comentário:

dama disse...

Obrigada.