terça-feira, maio 02, 2006
Slow food
Sentei-me à mesa e estava de vermelho. A mesa estava posta. Endireitei as costas, adequei a postura à refeição, estiquei a pele do rosto com um silêncio concentrado. Peguei nos talheres convicta e comecei a fatear devagar a árvore tão delicadamente disposta no meu prato verde. Depois de devidamente laminada, com o silêncio ainda a esticar-me o rosto, fui engolindo ramo a ramo a árvore. O tronco em lâminas finas cheirava ainda a resina, as folhas secas estalavam-me no céu da boca, os cavaquinhos arranhavam-me as paredes da garganta e as raízes enrolaram-se ruidosamente no meu estômago. Bebi de seguida um copo de água tépida e pensei: já está.
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