quinta-feira, abril 13, 2006

Animismo, para a Mathilde



Land des Schweigens und der Dunkelheit/Na terra da escuridão e do silêncio (1971) de Werner Herzog

«MÃE MUITO VELHA: Ele procura a minha mão, está a ver? E ainda sorri para mim.
INTÉRPRETE: Ele procurou a mão da sua mãe. Agora, vai lá tu.
MÃE: Sabe que não sou eu... ele reconhece-me pelo meu anel.
SENHORA PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE CEGOS-SURDOS ALEMÃ: Nós... vamos... fa-lar.


(narrado em off) Há 5 anos, perto de Noerdlingen, vive Heinrich Fleischmann, com 51 anos, juntamente com a sua mãe, num lar para idosos. Aos 30 anos, o filho de camponeses também ficou cego, além de surdo. A partir daí, todos os parentes o abandonaram, e ele esqueceu-se de como falar e escrever. Após ter sido posto de parte pela sociedade, o Heinrich Fleischmann procurou o contacto com os animais. Ele viveu, durante anos, com o gado num estábulo.


SENHORA: Ele sabe falar?
INTÉRPRETE: Ele sabe falar?
MÃE: Se conseguisse ler dos lábios, seria capaz de dizer tudo. Conseguia falar com ele quando ainda sabia ler os lábios, quando ainda via. Por exemplo, durante o Inverno, levei-o até à janela e peguei na sua mão e meti-a na neve e ele disse: "Neve". De resto, não consegui que dissesse mais nada. De vez em quando, uma palavra. Raramente, muito raramente...
INTÉRPRETE: Já alguma vez perguntou quem cá esteve, após nos termos ido embora?
MÃE: Não... nunca. Quando vêm cá os meus filhos, não reconhece nenhum.
INTÉRPRETE: Já não conhece os próprios irmãos?
MÃE: Não, nem sequer sabe quem são. Digo-lhes para lhe darem a mão, e eles dizem que não vale a pena, que ele não os reconhece.
SENHORA: Então... não quer estranhos. Já deve ter feito as suas experiências.
MÃE: Certamente que sim. Deve haver muitas coisas que desconheço.
SENHORA: A-deus.


O homem afasta-se sozinho na direcção das árvores.


INTÉRPRETE: Disseste-lhe adeus?
SENHORA: Sim, disse-lhe adeus.
INTÉRPRETE: Adeus, sra. Fleischmann.
SENHORA: Espero que consigamos fazer ver às pessoas qual o problema desta questão.
MÃE: Não se preocupe.
SENHORA: Felicidade, também para o próximo ano. Adeus.


O homem passa muito tempo a tocar as árvores. »

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