(...)
adormecia de um acordar desgostoso, assim espesso, é quase manhã
não estou certo do medo, deito-o à rua
volta para se aninhar, no meu calor
não estou certo do medo, deito-o à rua
volta para se aninhar, no meu calor
parece que o temos todos, puta temperatura
(...)
partilhamos a ansiedade, por imprecisa natureza
aquela subdivide-se em milhares
linha profunda, divide-nos em nós, dentro
linha recta, diafragma negro
que corta o fôlego, boca-a-boca infinito
com a morte? quem dera não
aquela subdivide-se em milhares
linha profunda, divide-nos em nós, dentro
linha recta, diafragma negro
que corta o fôlego, boca-a-boca infinito
com a morte? quem dera não
dera o fígado, lento acompanha o passo
(...)
apenas
desamados, expectantes de surpresas, sustos de afectos
reservamo-nos, surdina e neblina
desmaiados de amores soporíferos
e voltamos as palmas das mãos
desamados, expectantes de surpresas, sustos de afectos
reservamo-nos, surdina e neblina
desmaiados de amores soporíferos
e voltamos as palmas das mãos
(...)
esta vontade audaz, malabar de soçobramento
na solidão improdutiva, no desaparecimento utópico
jejum grandioso e intocado, trespassado de água
na solidão improdutiva, no desaparecimento utópico
jejum grandioso e intocado, trespassado de água
e em contínua sede
(...)
imagina uma vida assim
toda ela grandiosa, suspensa na indecisão
esperando, lutando, mendigando a sua resolução
o machado que corta a cabeça
uma delas agora examinada
da imensidão das que caem, infinitas
que ser nos pusemos a ser?
cabeças caindo, caindo
cestos cheios guardados
caves
toda ela grandiosa, suspensa na indecisão
esperando, lutando, mendigando a sua resolução
o machado que corta a cabeça
uma delas agora examinada
da imensidão das que caem, infinitas
que ser nos pusemos a ser?
cabeças caindo, caindo
cestos cheios guardados
caves
(...)
para um pouco de vida de cada vez
para não engolir de repente
engasgamo-nos, os nervos presos entre os dentes e o estômago
goelas cima abaixo
a língua que se debate, furiosa
acaba também por parar
para não engolir de repente
engasgamo-nos, os nervos presos entre os dentes e o estômago
goelas cima abaixo
a língua que se debate, furiosa
acaba também por parar
(...)
um luto
um luto
seguido de uma mudança de pele, intermitente mas rigorosa
síncrona chegada do inverno
(...)
vacúolos de solidão e de silêncio
deitados no lençol que oscila
doçura de não ter, direito de não ter
nada a dizer
(...)
(2003)
deitados no lençol que oscila
doçura de não ter, direito de não ter
nada a dizer
(...)
(2003)
1 comentário:
e depois voltamos as palmas das mãos
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