in memoriam um professor
Eis o mais terrível eufemismo da língua portuguesa! O estranho e cultivado privilégio de morrer de doença sem nome, apenas demorada, de uma doença, afinal, não suficientemente prolongada. Como se, ao morrermos, preservassem o nosso nome como o único a ser dito no momento em que desaparecemos. Por mais doloroso que seja, não é apenas ele que se ouve. Há uma força também ela viva, mesmo que destruidora, uma doença com nome, particular, horrível de tão exacta, que nos atravessa para sempre, que nos desmancha. Quase nunca se morre de uma coisa vaga, inominável. Por isso não compreendo como se põe os outros a morrer assim. A não ser que pensem que a doença prolongada é a própria vida.
Não tenho pressa, mas quando morrer – amigos meus – façam homenagem a essa qualquer força que me leva e enterrem-me nu, numa vala comum, se ainda as houver. É um direito de memória.
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