sábado, janeiro 21, 2006

derrame


restam tantas palavras tuas à espera
não as consigo ler agora
nem é uma resposta
vazio como estou
sem ecos, nefasto neutro

mas, de qualquer maneira
haveria a evidência de te dizer
clara, breve, doce, morna, turva
assim
o meu amor
estendido, inerte, arrefecido
imenso ao pé de ti
que dormes

tão longe nos encontramos
nos conhecemos
miséria suave
entre as vozes perdidas na rádio em Espanha
durante a noite
entoadas, febris, cansadas
agaçadas raspas mantidas por deferência
ao esquecimento
súbito senão impotente

queria falar um pouco disso
desse cansaço
que nos dá força para o que não devíamos poder
fazer, exercitar, manter, levar, suscitar
trabalhos em força
cúmulo total do cansaço
milhares de suspiros compassivos síncronos,
longínquos?
irrecuperáveis, talvez
nem isso arrisco
não arrisco
derramo

(2003)

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