Tenho estado a reler a poesia de Fernando Assis Pacheco. Um diálogo intertextual familiar a António Machado e toda a literatura espanhola, poesia inglesa entre guerras, poesia americana contaminada pelos vanguardistas europeus emigrados, fugindo aos modelos estilísticos dos anos 60 cheios de ecos neo-realistas. Uma certa ironia lírica surrealizante que versa os encantos do acaso, quotidiano e viagens sem preocupações formais, numa mestria que derruba barreiras entre a poesia e as pessoas. Adepto da ideia de que a poesia só deve ser difícil para quem a escreve, como aforismou Vladimir Holan: “do esboço à obra o caminho faz-se de joelhos”.
“Oferecendo-nos a bela ilusão da grandeza humana, o trágico traz-nos uma consolação. O cómico é mais cruel: revela-nos, brutalmente, a insignificância de tudo", já explicava o Kundera. Pelo risível lá se vai desconstruindo a aparente finalidade da vida e Assis Pacheco lembra a condição ingrata e egocêntrica do poeta, aquele que se está sempre a lamentar e a exibir ao mundo as suas dores particulares, qual menino mimado a pedir afecto. “Amantes em aflição”, os poetas. indignar-me é o meu signo diário, escreve em Poeta no Supermercado.
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