Hoje chove e parece dia dos namorados. As pessoas andam aos pares e algumas mulheres levam rosas vermelhas na mão. Turistas, lisboetas, famílias, o par é a regra. Um rapaz caminha sozinho, dá pontapés nas pedras do chão. É meio trapalhão e tropeça. Apanha um autocarro sem ver o número. Os olhos presos no chão e uma música no ipod lembra uma história antiga. Demasiada gente naquele autocarro de verão. O espaço é apertado e as mãos movimentam-se sem se tocarem, com cuidado para não tocar, para não ser tocado, para não se ser ofendido no toque. Tenta não ofender ninguém mas tem vontade de ordenar à bruta que todos saiam e fazer do autocarro uma zona libertada. ficar ali só com a música e uma brisa confortável. O calor sufoca e ninguém se move para não tocar. Um suspiro sacode o ar muito pesado. Uma mulher ali na retaguarda, com os lábios muito pintados e os olhos a revirarem-se, cai, desmaia, quase falece. É uma senhora de idade, as quedas têm certas idades. É preciso socorrê-la, afastar uns dos outros, metade do autocarro ficar mais comprimida, apertada até aos ossos. Uma criança chora, o rapaz concentra-se na criança, nos ouvidos a música até ia bem com um riot num subúrbio qualquer. Os dedos do rapaz inquietam-se no varão do autocarro.
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