sexta-feira, maio 06, 2011

o tempo dos assassinos e a pacatez suíça

Cinco dias a ouvir relatos, posições, teses sobre violência urbana e culturas juvenis, América Latina e África. Todas estas pessoas têm uma grande paixão e proximidade pelos objectos das suas pesquisas e isso mudou as suas vidas. E a narrativa geral, se pudéssemos fazer disto a construção de uma memória colectiva como produzem com os seus sonhos os índios Kayowa, que andam a suicidar-se em massa, os nossos imaginários das realidades duras de um mundo fragilizado por podres poderes, não seriam os mais estimulantes...
Entregue ao aleatório, máfias, gangs, polícias, repressão, narco, mutilações, traumas, o tempo dos assassinos que Rimbaud cantava, volta a instalar-se!

Fiquei igualmente bem impressionada com o grau de cordialidade e interesse mútuo que este formato de colóquio proporcionou. Ninguém esteve para aqui a falar e logo a fugir de encontro aos seus compromissos, todos nos ouvimos horas a fio, sugerimos, discutimos, perspectivámos. Num lugar tão inspirador, a palavra transitava de português de portugal, brasil, moçambique, cabo verde e angola para o espanhol do méxico, colômbia, venezuela, e ambos falado por suíços poliglotas e aplicados, sempre com uma harmonia e entendimento incríveis entre todos.
Agora ao jantar, quando circulavam histórias de imigração aqui na Suíça, e cada cantão com as suas manias, estava a pensar que, apesar do lado extremamente controlado e controlador deste país, será talvez esta neutralidade que permite um encontro saudável de realidades tão extremadas.

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