Ruídos. Carros e carros e carros. Vozes por entre as buzinas. Passos de chinelos.
Pessoas a falar ao telemóvel - Tás onde?
Pessoas a cumprimentar-se - Comé? Tudo fixe?
Pessoas a insultar-se – vou-lhi bater! você vai morrer hoje!
Pessoas a pedir– madrinha, arranja só 100 kwanzas pra comprar pão.
O segurança conversa com a prostituta. Ela sabe dar música. Ele sabe o que ela quer ouvir.
O semba a cantar o orgulho de ser angolano.
Carros a chiar. Motas a arranhar. Todos se comunicam pelo tubo de escape como pelos rabos os cães.
Sirenes de ambulâncias. O doce amortecedor do jeep.
Kinguilas a fazer pssst, pssst, psssssst.
É O QUÊ???
Um avião cheio de chineses a aterrar.
Um candongueiro a despistar-se. Espalha-se contra outra viatura. Já raspou. O choque faz-se ouvir na avenida inteira. Logo os insultos e as palavras à toa.
De quem é a culpa, de quem é a culpa?
A velocidade? Os buracos na estrada? O kuduro a bater?
Ou mi mata ou quêê!!!! Culpa é de um, é do outro, é do pessoal que vai dentro que não fez nada e tem sempre culpa de tudo - penando a vida inteira.
Sai a bitola a estalar, com este calor sabe sempre a pouco. Venha mais uma e outra e mais outra e mais outra ainda e… no final de tudo, não esquecer a da porta.
fim da manhã. camarada: estou fobado. Vou comer na casa da tia Júlia. No quintal o funge fumega. Devoro-o com peixe seco. Encosto-me à cadeira a dormir um cochito.
À noite na discoteca beijo a garina. O beijo sabe a estrelas cadentes.
Fico tonto e flutuo na pista.
Ao levá-la a casa como ginguba para disfarçar o nervoso.
Saboreio um cigarro depois de a ver desaparecer no portão. A 'mboa é linda, vou conquistá-la. A minha língua enrola-se com tanta emoção. A que sabe o mar?
Cinzento e castanho.
Cidade em construção. Prédios a crescer. Todos os dias mais prédios, rebentam bancos e escritórios. A cidade cresce, para cima e sobretudo para os lados.
A terra é palmilhada por casas e casinhas e musseques e coisinhas. Uma cidade em expansão. O pessoal do mundo, o mundo é uma casinha, tá a vir!!! TÁ A VIR!!!! posso falar todas as línguas na banda que alguém me vai entender.
Cores. Vejo arte contemporânea e arte da Mauritânia. O traço, o espaço, a terra que vence o alcatrão. Ano 2007. Luanda tem muito que ver. Tem muito que fazer. Ele quer participar, ele quer estar no ar.
Precisa de ver e ser visto. Dá atenção à visão.
A mulher sentada com o puto de um lado e o abacate do outro.
Os panos, as pernas sempre em movimento. MAS VÃO AONDE?
O mar é um azul que às vezes tem cor de gente. Mexe como nós, em convulsões.
Cheira-me a esturro. O mambo tá a queimar. Perdi tudo perdi tudo. A casa ardeu. O dinheiro voou ontem no boda.
Cheira-me que não vou aguentar até ao próximo fim do mês. Os meses nunca mais acabam, são longos, mas se acabassem logo a vida era muito curta.
Mano, diz só: sentiste a fragrância daquela 'mboa que passou? Perfume de alfazema. Roupa lavada ontem e estendida ao sol. Mmm. Lençóis lavados. Quem me dera dormir mil horas mas tenho de acordar às 3 da manha para vir de Viana para o trabalho.
Na rua o cheiro do esgoto. O cheiro da gasolina. O cheiro das crianças. Cheira a fritos nas escadas.
E já sentiste o cheiro do pó?
O meu corpo modela-se. Sinto a textura da pele. Pele veludo. Pele forte. Pés que conhecem a sorte. Sinto o beijo: a tua língua esconde-se e revela-se. Quer dizer coisas.
As ancas dançam tarrachinha. Encosta mais um pouco... mas deixa que eu te atarrache bem!
Sou matéria sou feita de terra como Samba e tu és feito de fogo como Maweze e foi o deus Suku-Nzambi que nos moldou. Somos desta terra. Aqui nascemos e vivemos.
Somos a matéria que temos, mas também podemos ser outras coisas.
Desequilíbrio.
Pessoas a falar ao telemóvel - Tás onde?
Pessoas a cumprimentar-se - Comé? Tudo fixe?
Pessoas a insultar-se – vou-lhi bater! você vai morrer hoje!
Pessoas a pedir– madrinha, arranja só 100 kwanzas pra comprar pão.
O segurança conversa com a prostituta. Ela sabe dar música. Ele sabe o que ela quer ouvir.
O semba a cantar o orgulho de ser angolano.
Carros a chiar. Motas a arranhar. Todos se comunicam pelo tubo de escape como pelos rabos os cães.
Sirenes de ambulâncias. O doce amortecedor do jeep.
Kinguilas a fazer pssst, pssst, psssssst.
É O QUÊ???
Um avião cheio de chineses a aterrar.
Um candongueiro a despistar-se. Espalha-se contra outra viatura. Já raspou. O choque faz-se ouvir na avenida inteira. Logo os insultos e as palavras à toa.
De quem é a culpa, de quem é a culpa?
A velocidade? Os buracos na estrada? O kuduro a bater?
Ou mi mata ou quêê!!!! Culpa é de um, é do outro, é do pessoal que vai dentro que não fez nada e tem sempre culpa de tudo - penando a vida inteira.
Sai a bitola a estalar, com este calor sabe sempre a pouco. Venha mais uma e outra e mais outra e mais outra ainda e… no final de tudo, não esquecer a da porta.
fim da manhã. camarada: estou fobado. Vou comer na casa da tia Júlia. No quintal o funge fumega. Devoro-o com peixe seco. Encosto-me à cadeira a dormir um cochito.
À noite na discoteca beijo a garina. O beijo sabe a estrelas cadentes.
Fico tonto e flutuo na pista.
Ao levá-la a casa como ginguba para disfarçar o nervoso.
Saboreio um cigarro depois de a ver desaparecer no portão. A 'mboa é linda, vou conquistá-la. A minha língua enrola-se com tanta emoção. A que sabe o mar?
Cinzento e castanho.
Cidade em construção. Prédios a crescer. Todos os dias mais prédios, rebentam bancos e escritórios. A cidade cresce, para cima e sobretudo para os lados.
A terra é palmilhada por casas e casinhas e musseques e coisinhas. Uma cidade em expansão. O pessoal do mundo, o mundo é uma casinha, tá a vir!!! TÁ A VIR!!!! posso falar todas as línguas na banda que alguém me vai entender.
Cores. Vejo arte contemporânea e arte da Mauritânia. O traço, o espaço, a terra que vence o alcatrão. Ano 2007. Luanda tem muito que ver. Tem muito que fazer. Ele quer participar, ele quer estar no ar.
Precisa de ver e ser visto. Dá atenção à visão.
A mulher sentada com o puto de um lado e o abacate do outro.
Os panos, as pernas sempre em movimento. MAS VÃO AONDE?
O mar é um azul que às vezes tem cor de gente. Mexe como nós, em convulsões.
Cheira-me a esturro. O mambo tá a queimar. Perdi tudo perdi tudo. A casa ardeu. O dinheiro voou ontem no boda.
Cheira-me que não vou aguentar até ao próximo fim do mês. Os meses nunca mais acabam, são longos, mas se acabassem logo a vida era muito curta.
Mano, diz só: sentiste a fragrância daquela 'mboa que passou? Perfume de alfazema. Roupa lavada ontem e estendida ao sol. Mmm. Lençóis lavados. Quem me dera dormir mil horas mas tenho de acordar às 3 da manha para vir de Viana para o trabalho.
Na rua o cheiro do esgoto. O cheiro da gasolina. O cheiro das crianças. Cheira a fritos nas escadas.
E já sentiste o cheiro do pó?
O meu corpo modela-se. Sinto a textura da pele. Pele veludo. Pele forte. Pés que conhecem a sorte. Sinto o beijo: a tua língua esconde-se e revela-se. Quer dizer coisas.
As ancas dançam tarrachinha. Encosta mais um pouco... mas deixa que eu te atarrache bem!
Sou matéria sou feita de terra como Samba e tu és feito de fogo como Maweze e foi o deus Suku-Nzambi que nos moldou. Somos desta terra. Aqui nascemos e vivemos.
Somos a matéria que temos, mas também podemos ser outras coisas.
Desequilíbrio.
3 comentários:
Beleza de texto.
beijo, ori
N a d i n e B o t h a
Knowing nothing while doing it
So maybe,
we are inherently evil and talking
in those gruesome hateful subliminal messages
resulting in a massacre of life
so we painted morals, emotions, feelings, religion
onto it
becoming insincere twits
trying to be what we are not
innately gaining insecurity
from fear of dying ourselves
that we stop others
killing our youth of perception
of existence becoming a 100m spring from decay
never being able to do it
in such a small amount of time
as to deny decay
towards ceasing this endless battle
of questions driving us on
towards wondering
if I've said enough,
read enough,
met enough,
cried enough,
expressed enough,
lived enough
not to need to write
out of here
like Michelangelo painted the ceiling out
of his commitment to the pope
demanding social initiative
to keep with the mediocrity
and the altruism of genius
being something you need
to understand
so that you can classify yourself one
in your small slice of the world
weighing on you as Atlas
is the essence of Freud
not being able to figure
out why
it bugged us so much
to being annoyed by
complexities fixating themselves
in eccentricity driving us on
to find balance in not caring
who you are
when normal in yourself
wandering about yourself
with binoculars and pens
scarring the resonance of the treadmill
of time transporting me away
from these dead legs
I get from reading.
estás com saudades...
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