quinta-feira, março 05, 2009

Iuglia

Iuglia é moldava, mora em lagos em frente à Meia Praia. Trabalha há 6 anos no mesmo pequeno hotel, na parte da lavandaria. Não subiu na carreira. O marido, de engenheiro na Moldávia passou a motorista. Quando chegaram não pôde deixar de reparar no egoísmo dos algarvios: levava bolachas e bolinhos para as colegas no trabalho e elas riam-se tipo a dizer que tolinha, deixa estar que aqui ninguém dá nada a ninguém. As mesmas que só falavam de comida, que tinham tanta abundância de repasto durante a semana, gabarolice de cozinhados a dar c'um pau, mas prova de paladar nem vê-la. Depois estava chocada com a falta de educação na escola do filho. Ela, a rapariga que no tempo na União Soviética viajara pela Rússia e Alemanha (de leste) por ter a abébia de um pai comunista e que nas aulas ficava em silêncio com os cotovelos e ante-braços em cima da mesa sempre atenta ao que o professor dizia, tinha agora, numa terra chamada Lagos que antes nunca sonhara existir, de aturar a ignorância arrogante dos administrativos e o desleixo dos professores. Nunca foi convidada para casa de nenhum português. Salário, nada que desse para mandar de volta aos familiares moldavos.
Entretanto, depois de me confidenciar tudo isto e muito mais enquanto ficámos internadas no hospital, decidiu que se vai pôr a andar. De Portugal já chega, mas aprendeu a língua e gosta muito do marisco “percebes”.

1 comentário:

Márcio Almeida Júnior disse...

Parabéns pelo blogue. É autêntico.