domingo, março 08, 2009


fotografia de Nuno Martinho, 2003

daqui desta lisboa comprometida...

Ali te sentaste a contemplar a cidade do outro lado e... quão longe estamos do mundo, embora o mundo seja aqui esquecemo-nos dele e só temos estes pés inúteis para nele pousar. Estou no cú do mundo e imagino onde estará a sua cabeça, quem o pensa quem o constrói. E houve um gosto de ferro na boca, quando pousaste a mão como calando o gesto e...
olho é sangue é sangue puro do meu, detesto o sabor inédito assim na boca. Ter-me-ão dado um soco? É bem provável, um soco invisível fez-se ouvir em mim e resultou num golpe sangrento que mescla tabaco e gosto a dinheiro na boca. O sangue tem o mesmo sabor estranho e férreo do dinheiro e isto não é metafórico.
Então, pensaste, quem serão os meus inimigos, a quem devo a vingança de existir? À volta só um cão esfaimado ousou abeirar-se de ti. De repente parece que tudo morre e é assim o mundo do fim do mundo. Quiseste então desaparecer tão fugaz como o miúdo do barco, correr da mulher que o odeia, correr de todos os polícias que são a ilustração fácil do nosso ódio, correr da modernidade e da promíscua relação que nos obrigam a manter com a cidade inteira. (...)
2001

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