terça-feira, maio 15, 2007

monólogo descompensado

...Para se cantar a beleza de uma mulher é preciso que ela seja caladinha para preservar o mistério, os olhos doces, a boca ligeiramente entreaberta, o cabelo que se imagina - mas só imaginado - solto, aquela distância que impõe respeito, que lembra outras eras.
Essa distância faz dela musa inspiradora porque no seu silêncio adivinham-se e atribuem-se todas as vidas e seduções que quisemos ter, contam-se todas as histórias.
A mera simplicidade de uma beleza muda, perfeita porque não erra, a beleza que é fachada, pronta e versátil para ilustrar qualquer sentimento.
E tu darás azo ao teu sentimento, às tuas memórias nostálgicas da adolescência,
aos teus sonhos privados de mulheres ideais.
E eu não quero saber.
Vou sentir-me no papel de ampara-quedas,
e penso que estamos a entrar na comunicação caixote-do-lixo.
Alguém que fala fala e o outro ouve.
Sentes-te bem, bebes e comes, e desbobinas os teus dramas, as tuas opiniões, as tuas questões.
O meu silêncio e compreensão são a tua sensação confortável de que podes continuar por ali a fora
a dar rédea solta ao teu ego.
Não há contemplação possível do outro nas tuas palavras a não ser atirar-mas
para que fique com elas e faça o que bem entender.
Porque é que esta merda nunca é equilibrada?
Eu conto-te uma história minha, logo há uma associação de ideias que te faz ligar a uma história tua que aniquila a minha, e os planos, de realidades inconciliáveis, sobrepõem-se.
Quanto mais falas mais eu tenho vontade de calar....

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