terça-feira, maio 01, 2007

escuridão

Era alto na noite. Entrámos no bar. Televisão com caras brasileiras falam e repisam uma novela sem fim que nunca se cala (durante 24 horas as mesmas intrigas com actores rotativos). Na mesa ao canto um preto loiro pende a cabeça para trás, a dormir ferrado, de boca aberta, de exaustão ou dos copos. No outro lado um rapaz fardado, com olhos de criança sob a penumbra do boné, pede-nos dinheiro, tem o filho de 8 meses no hospital com uma hérnia. Diz que está desorientado na vida. Noutra mesa dois amigos embebedam-se, um está cheio de sangue seco na camisa, nas calças e tem o braço ligado. Acaba de resistir a um assalto e antes de ir para casa passa no bar a tomar o seu copo de esquecimento. Ainda noutra mesa um mulato mais-velho fala sozinho, está bastante zangado mas não se cansa de gabar a sua própria pessoa.
Sinto uma ligeira náusea de tanta decadência à volta. É melhor ir para casa, mas acabo por ir ficando, entro nesse buraco sem fundo que é a escuridão da noite. Que deixa marcas no fundo, imperceptíveis.
exodus I, fotografia de Kiluanji Kia Henda

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