domingo, abril 08, 2007

exílio

Exílio é quando me sinto desconectada, com estranhamentos de tudo à volta, o som não emite, o cheiro não entra nas narinas, tudo se torna impenetrável como se deixássemos de falar todas as línguas e nem os gestos nos socorressem.
Ficamos suspensos. Como se fosse somente a rotina a dar sentido às coisas e as suas pequenas avarias contaminarem a capacidade de nos situarmos. E vem o mar lembrar que há distâncias entre as coisas e que de repente se está mergulhado noutra realidade. Que há histórias das quais já faço parte, dores que estas pessoas não ultrapassaram e uma memória de prazer que me aquece muito o coração. Então passa, chegam os ruídos e gestos antigos que me despertam pois é raro ceder assim ao bloqueio total por muito tempo. E a palavra exílio volta a parecer-me uma piroseira dos anos 60 que não cabe neste tempo.
Não tenho o direito de desejar viver com intensidade como se tudo fosse um jogo de vida ou morte, onde há sempre decisões importantes e definitivas. Como se tudo fosse perecível de mudar: país, estilo de vida, amigos. Nunca ser monótono, nunca nos apegarmos às coisas. Um acto contra a nostalgia. Tudo é passageiro para chegar a deixar hábitos mas sabemos que o mais difícil é a impressão física que fica quando os pés já estão habituados a determinados caminhos e os ouvidos a certos discursos.

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