Sem cuidado, que podemos entrever num momento de exposição maior da nossa fraqueza? Não tanto a sua essência própria ou face escondida. Mesmo as suas dimensões abertas, os pasmos pelas capacidades negativas que não sabíamos possuir, quase comoventes, parecem empalidecer perante um ser que não pare, que não saiba ainda respirar, e nos acosse nesse momento de particular fragilidade. Posso guardar aí o que resta da minha repulsa, para esse reconhecimento oculto das pessoas colocadas perante a fraqueza alheia. Que consideração merecem os que mantém a sua distância, sem qualquer familiaridade apressada com a nossa derrota ou tristeza. Outros menos dotados, parcos de generosidade, farejam-na depressa, cercam-na, dela reclamando pequenas, ínfimas vantagens. Como se lhes mede a amplitude do gesto? Certamente que não pela intenção ou alcance. Seria melhor dizer, pela cratera que deixa. Na balança do mundo, aos não-inspirados, os favores pesam muito. Saberão que nesta economia justa um empurrãozinho negligente pode chegar para destruir uma pessoa? É coisa que se aprende a olhar para as coisas. E vejamos, “destruir uma pessoa” não chega a ser um exagero poético. Os vasos rachados com que nos cruzamos, que somos, parecem prová-lo. Dizia Nietzsche, “é preciso proteger os fortes dos fracos”. Queria dizer, proteger os que medem a sua fraqueza pelo confronto ao mundo dos que medem a sua força pela fraqueza dos outros. Estes não sabem, ainda assim, que, despudoradamente confesso, não será o seu gesto a ter impacto, por manco de graciosidade, mas somente um outro anónimo, cego e seco, pelo qual aceitemos quebrar. Da mão venenosa que nos estendem um orgulho imenso nos impedirá de comer. E sementes raivosas despontarão da terra alimentada pela radiação da sua inextinguível cinza mesquinha de mortos.
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