sábado, agosto 05, 2006

Para exprimir uma flor

«EROS: (...) Nem o Radiante recolheu o entusiasmo que lia naqueles olhos – bastou-lhe suscitá-lo –, já entrevia então nos olhos e nos caracóis a bela flor manchada que era a sorte de Jacinto. Não pensou nem em palavras nem em lágrimas. Tinha vindo para ver uma flor. Esta flor devia ser digna dele – maravilhosa e familiar, como a recordação das Cárites. E com calma indolência criou esta flor.
TANATOS: Somos coisas ferozes, nós os imortais. Pergunto-me até quando os Olímpicos farão o destino. Tudo ousar talvez os destrua também a eles.
EROS: Quem pode dizê-lo? Desde o tempo do caos não se tem visto senão sangue. Sangue de homens, de monstros e de deuses. Começa-se e morre-se no sangue. Como pensas tu ter nascido?
TANATOS: Que para nascer se tenha de morrer, sabem-no até os homens. Não o sabem os Olímpicos. Esqueceram-no. Eles duram num mundo que passa. Não existem: são. Cada capricho seu é uma lei fatal. Para exprimir uma flor destroem um homem.
(...) »
Cesare Pavese, «Il fiore», Dialoghi con Leucò, Einaudi, Turim, 1947

Sem comentários: