Dezembro. A 12, Christoph Schwerin escreve a Michaux afim de lhe confirmar a assinatura do contrato com a Gallimard para a edição prevista em três volumes das suas obras em alemão pela Fischer Verlag. Anuncia-lhe que Paul Celan deu o seu acordo definitivo quanto a tomar parte na tradução. (...)
Julho [de 1962]. A 9, Michaux escreve ao “Caro Senhor Paul Celan”, que lhe tinha feito chegar algumas traduções tendo em vista a edição alemã: “Tenho agora de pagar o preço de demasiadas fantasias e de demasiado poucos estudos. Kontra ! (título admirável, sem dúvida melhor que Contre). Permaneço neste edifício, sem poder tornar-me noutro, diante desta estrutura, que contudo sinto tão sólida, tão segura, certamente. / Mas é tão grande a minha ignorância, quanto é forte a minha confiança no poeta tradutor. Nessa língua que apenas se me pode revelar como uma irregularidade, sinto contudo o meu ser completamente reconstituído. Obrigado. [...] P.S. A face de Karl Flinker, a quem acabo de mostrar o poema [...], fez-me imediatamente perceber o que perco com a minha lamentável ignorância. A sua tradução é para ele uma revelação.”
Janeiro [de 1963]. A 15, Michaux escreve a Celan, que solicitou a sua ajuda devido ao seu estado mental: “O Dr. Mâle (8 rue de Bellechasse), que ontem pude encontrar, está a sua disposição. / Não omita, quando pedir uma marcação – no caso de ter de falar com uma secretária, de referir o meu nome juntamente com o seu e que ficou conversado, em princípio, que ele o recebesse no fim do mês.”
Setembro [de 1965]. Kurt Leonhard e Paul Celan enviam a Michaux uma carta-poema em papel de carta do hotel Frankfurt Continental, para lhe anunciar o fim da tradução dos textos do primeiro volume da antologia das suas obras em alemão, de que partilham a responsabilidade na Fischer Verlag: “Frankfurt, arranha-céus, / sobre as brumas e os campanários // ENFIM // eis / terminado o longo trabalho / o Grande Combate das línguas / vitória sem vencido // campo lavrado carne amassada osso perfurado / torre erguida, corrida finda / até / uma nova partida. // Temos o prazer de o informar, caro Henri Michaux, que demos juntos o último retoque no edifício do nosso primeiro volume, hoje, 10 de Setembro de 1965.”
Março [de 1966]. (...) A 5, Gisèle Celan-Lestrange escreve a Paul Celan: «Telefonei a Henri Michaux. [...] Pediu-me que lhe levasse algumas gravuras e recebeu-me demoradamente esta tarde vendo-as demoradamente. Fiquei um pouco comovida porque me comprou seis, cinco das quais grandes, de modo que ganhei cem mil francos (antigos). Fiquei muito espantada com a sua escolha. Aquelas que têm um lado atormentado ou nervoso ou um pouco negro, não as queria em sua casa, achava-as demasiado inquietantes. Escolheu de entre as antigas, quase todas, e de resto uma bela escolha, acho [...]. Sabes que ele é secreto e não diz muito, mas apesar de tudo fiquei bastante comovida por ele ver as minhas gravuras, por ficar com tantas, e tive até a impressão de que ele não as achava assim tão mal.” (...)
Abril. (...) A 21, Gisèle Celan-Lestrange escreve a Paul Celan: «Passei pelo Goethe-Institut depois de te deixar [...]. Vi no caderno de assinaturas que Henri Michaux tinha vindo e isso comoveu-me muito – Era a última assinatura: se calhar tinha acabado de sair. [Uma exposição associava (...) o livro de poemas Atemkristall de Paul Celan e trinta e nove gravura de Gisèle Celan-Lestrange.]”
Novembro. A 5, Celan escreve a Michaux: “A sua obra é agora diversamente visível nos países de língua alemã e penso que não deixará de agir em profundidade, de homem a homem.” No mesmo dia, Michaux escreve uma longa carta a Petru Dumitriu, que sucedeu a Schwerin nas edições Fischer, para lhe explicar que as dificuldades conhecidas ao longo da elaboração do primeiro volume com Paul Celan pertencem agora ao passado, e que seria injusto e exagerado afastá-lo da continuação do projecto. “É com um outro homem que tratamos agora [...]. Não era ele, mas apenas o seu ‘demónio’ aparecido devido à doença.”
Fevereiro [de 1967]. Michaux intervém certamente junto de Jean Delay para fazer transferir Paul Celan a Sainte-Anne, onde este chega a 6.
Abril. A 28, Paul Celan escreve a Gisèle Celan-Lestrange: “Vi a exposição Michaux, que me desiludiu. Tão delineado nos seus escritos, Michaux, na pintura, abraça tantas alteridades.”
Janvier [de 1969]. A 5, Gisèle Celan telefona a Michaux para mais uma vez lhe pedir ajuda face aos problemas psiquiátricos de Celan.
Verão [de 1970]. Michaux publica na L’Ephémère, n.º 14, dezasseis desenhos acompanhados de uma única linha de texto, datada de “1969”: “A poesia já não se impõe, expõe-se.” Dedica também um texto de homenagem, “Sur le chemin de la vie, Paul Celan...” ao número especial que a revista Étude germaniques consagra ao poeta depois do seu suicídio (lançou-se no Sena durante a noite de 19 para 20 de Abril de 1970). »
« Michaux sentiu-se suficientemente próximo de Celan para, quando este o visitou pela primeira vez, ter o sentimento de se encontrar perante um homem talvez ainda mais “difícil” do que ele próprio era. Tinha assim, segundo atesta Micheline Phankim, a maior admiração por ele. Por seu lado, se Celan trabalhou durante anos na grande edição das obras escolhidas de Michaux em língua alemã, depois de ter querido empreender, desde 1959, uma tradução de Nous deux encore, poderá no entanto escrever a Jean Starobinski, a 3 de Maio de 1965, a propósito do psiquiatra que o trata e que lhe foi recomendado por Michaux: “Sinto mesmo, e sei mesmo, que me enganei em tomar esse passo, seguindo o conselho de um escritor no fundo estranho a tudo o que sou, tudo o que penso, tudo o que sinto. [Esta carta não enviada é citada por Bertrand Badiou na sua bela edição da correspondência entre Paul Celan e a sua mulher Gisèle Celan-Lestrange, Seuil, 2001]”. Houve assim entre Michaux e Celan uma relação de rara tensão, que parece, do lado de Michaux, sem equivalente. »
[Raymond Bellour et Ysé Tran, «Chronologie (1960-1984)», «Notes et variantes de Moments», in Henri Michaux, Oeuvres complètes, III, Gallimard, Paris, 2004]
1 comentário:
dois autores que visitam muito a barraca e o nosso bar.
saudações,
changuito
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