sexta-feira, março 24, 2006

farsa


Foi Carnaval e houve histerismo e movimentação de massas. Os bairros desceram ao centro. Luanda estava cheia de gente na marginal com máscaras e danças ensaiadas. A imagem da alegria e despreocupação nas ruas.
E nessa mesma noite na RTP repetem a notícia alarmista do surto de cólera em Luanda: o drama, o horror, as criancinhas, os hospitais, a bandeira a acenar ao fundo do ecrã como um abandono, o ar incorrigível com que acusam o país, a ajuda caridosa de Portugal e a recusa orgulhosa de Angola. Tal como em tempos foi recorrente a trilogia da miséria, guerra e minas. O pessoal desta banda indigna-se com isso e manda lixar Portugal e o seu paternalismo idiota. Pedem para desligar a televisão ofendidos, fartos dessa imagem de sempre na qual não se reconhecem.
Não percebo o despropósito da insistência numa Angola terceiro-mundista. A exclusão total nos media mundiais das coisas positivas que acontecem em África. Como se não fosse também um continente da juventude (hoje em dia povoado, pela metade, por pessoas de menos de 15 anos) e de um presente universal, com as suas fragilidades óbvias mas também com tanto ensinamento a dar à Europa cansada e triste. Não percebo porque serão todos catalogados de corruptos. Os africanos, que roubam menos entre eles do que os outros roubam aos africanos. Que nem sequer inventaram o dinheiro, nem os cartões de crédito. Quando deixarão de ser vistos como eternas vítimas para figurarem como actores independentes e participantes neste mundo?

1 comentário:

André Dias disse...

fantástica a fotografia, martinha. emancipatória, para nós que estamos deste lado.