Nas bodas dos bairros de construção precária em Luanda há abundância de comida e bebida. A alegria passa pela presença de muitas crianças, adolescentes grávidas, grupos de homens com cervejas geladas na mão e os mais-velhos. Aparentemente não se sente grande contacto entre estes núcleos, mas a harmonia está lá tão evidente que arrepia. Uma harmonia que sobe das coxas aos ombros e desenha um círculo que desemboca no sorriso.
A sequência musical é quase sempre a mesma: música africana fixe, tarrachinha, zouk love, sucessos comerciais inclassificáveis, kuduro, hits mangoleses: o Proletário com a “saia da mana Júlia”, Kalibrados “gajos de gajas, não há dama que resista à nossa tentação”, AfroMan, o comboio “tá a vir”, e às vezes umas brasileiradas estridentes.
As crianças observam atentamente, imitam sozinhas e depois pegam nos seus pares e dançam iguais aos adultos, com a mesma sensualidade em ponto pequeno. Cultiva-se uma erotização muito forte no contacto dos corpos (a acção sexual começa mais ou menos aos 10, 11 anos) e uma absoluta naturalidade que não acede a lirismos: assim que acaba a dança separam-se sem se olharem, sem trocar uma palavra.
O Kuduro eleva a excitação de uma forma mais agressiva, pela exaltação dos que fazem rodas e logo dois se destacam em provocações e habilidades, uma competição que funciona como estímulo de criatividade e delírio dos restantes.
Vive-se a repetição das mesmas músicas até ao transe (entre ontem e hoje ouvimos lá em casa 5 vezes o mesmo cd de reggae). A novidade não é propriamente um valor nem surte grande efeito. A vibração vem daquilo que se conhece e se comemora de forma colectiva. A repetição não é só da música mas também daquela festa, com a mesma dose de alegria, praticada todas as semanas. O divertimento não reside na excepção mas na marcação de um compasso que adorna a vida.
1 comentário:
eu não sabia que somos uma "brasileirada estridente"!
Enviar um comentário