quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Devoração muda

Há-de haver um tempo sem palavras, um tempo feito apenas de gestos inequívocos nessa crueza sensível que é o silêncio. Há-de haver um tempo em que um toque bastará para se chegar ao fundo sem engano nenhum. Há-de haver um tempo em que abandonarei a crença para me tornar na própria crença, em que a esperança e o futuro que há nisso serão no instante em que eu quiser. Há-de haver um tempo em que as mãos, mesmo no menor movimento, tocarão piano sem haver piano e sem haver sequer música. Há-de haver um tempo em que as árvores devorarão homens e os homens permanecerão tranquilos e contentes no tronco, sem palavras, apenas o gesto, por favor, apenas o gesto: o da devoração muda. Há-de haver um tempo em que já é tempo.

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