sábado, janeiro 21, 2006

amor, terno


este silêncio enterrado, cerca a tua alegria
estas palavras brutas, submetem os teus dedos
simples de areia à esquadria

não me assaltes, por favor
onde não me sei, nem me quero
dizer nem estar
mesmo que seja essa, promessa
que farias, desse vazio lodoso
se acaso a ele acedesses?
não terás de cuidar, dessa densidade aflita que te ocupa
que a mim não diz, senão a cautelosa distância

linha minha, preciosa
que te escapa, sem que a sinta atentar
ao pleno, do nosso amor
que se escapa, sem que a esconda
porque que me é também, desconhecida
por esse lado à sombra, cresce e mirra toda a minha erva
como podes aí pôr, tua nódoa negra
teus tumores germinantes, doutro ano doutra colheita

e se nos tornamos, um casal maldito
sem distracção nem fadiga, obrigado a atenta e constante vigilância?
dizes desufocar, mas eu vejo-te mirrar
vejo a tua cabeça a ser comida, pela minha sombra
esta espécie de alívio, que sopras
ao dizer as coisas no rumo delas, soa a consciente
promessa de condenação
estrita pena, de suportar melhor a leveza
até desapareceres

revolves a ruptura, ponto a ponto
mas algo se aparenta cosido, em força
e não basta a mera coragem
não se a enfia nos bolsos, não a levamos
morre logo, renasce para o indiferente
imensa para pequenas misérias, extrema fraqueza
para as alegrias prometidas

queria não traçar limite, não traçar destino
esperar por, recolher-me
e não te fazer mal
digo que é complicado, tem a ver com a guerra
com fronteiras, depois guarda
excesso zeloso
suspeitas encarceradas, quebras da linha
depois há
quem trace as fronteiras, pelos campos adentro
amealhando segurança, à custa da vida
de pessoas e frutos, para mim
são muitos metros de altura

perder este encontro, perder a ti
afinal, não é a vida aqui?
contra o medo, despeja-me
em pequena mudança administrativa
a tempo
pedes amigo, cedo o segredo
seu maior dom
e a certeza do
meu amor, terno


(2003)

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